Memória de Poços de Caldas recebeu do amigo Wanderley Duck um belíssimo relato, que dá a ideia exata de como eram as viagens de trem até a cidade. Acompanhe:
"Estas duas fotos do Jorge Ferreira acabaram me fazendo viajar no tempo, recordar da época em que eu era moleque, nos anos 50, e a gente ia de férias de meio de ano para Poços de Caldas.
Não era em todos os invernos que nós íamos para lá, mas em alguns anos era essa a grande aventura de julho.
Como morávamos em São Paulo, íamos de trem, porque ir de carro naquela época era procurar encrenca, além das estradas ruins. O então moderno e possante Chevrolet 52 do meu pai, fatalmente ia ferver na subida da serra de Poços -aliás todo mundo deixava o carro e ia de trem naquela época em que os carros ferviam em qualquer subida de serra.
Íamos de táxi até a Estação da Luz, depois trem até Campinas e aí fazíamos a baldeação para o trem da Mogiana. Pena que tiraram os trilhos e tamparam aquela parte onde ficava a gaveta da Mogiana.
Eu nem gosto de visitar estações ferroviárias que conheci nos seus áureos tempos, me dá uma tristeza danada ver que tudo acabou, e por isso, desde que acabaram os trens de verdade por lá (me refiro a Paulista e a Mogiana, se bem que vez por outra algum da Santos a Jundiaí também aparecia por lá), nunca mais voltei à Estação de Campinas. Aliás voltei uma vez, em um concurso do Frateschi, doeu ver como era e como ficou.
Até Campinas a viagem era chata; ela ficava divertida mesmo era no trem da Mogiana, porque ele era menor e todo mundo acabava conversando com todo mundo.
Poços de Caldas era um lugar tradicional de lua mel e, se a nossa viagem fosse no sábado à tardinha, era comum, durante o percurso, o embarque de casais que estavam indo para a lua de mel em Poços.
Muitas vezes ia a família inteira na estação se despedir do casal e aí chorava todo mundo, a família da noiva, a família do noivo, os amigos, parecia que eles estavam indo para o China e que nunca mais voltariam.
No meio daquela choradeira toda, a minha mãe, que não conhecia absolutamente ninguém daquela gente, mas que era muito sentimental, se comovia e chorava junto também... e depois a coitadinha tinha que aguentar a nossa gozação.
Quando chegava em Águas da Prata, eles deixavam o carro restaurante e tudo o mais que poderia ser deixado; se o trem estava vazio, faziam a gente mudar para outro carro e deixavam os que podiam lá na Prata, para serem pegos na volta, junto com o restaurante. Se não tinha muito o que deixar, engatavam uma segunda máquina na traseira do trem, que era para dar uma forcinha.
Independente se era com uma ou duas máquinas, a subida era sempre lenta e então a gente descia do trem e ia caminhando do lado, todo mundo fazia isso. Aí, quando o trem começa a ir mais rápido, todo mundo embarcava e ficava esperando a próxima rampa, para descer e caminhar do lado do trem novamente.
E, no fim da história, chegar em Poços de Caldas era uma maravilha, não tinha nenhum prédio na cidade, onde quer que você estivesse dava para ver montanha, era só alegria.
Conversando com a minha mãe e com a minha prima dia desses, recordando essas idas de meio de ano a Poços, ficamos com um aperto danado no coração, lembrando do meu pai (tem uma foto dele no final), da minha avó, do meu tio e dos outros da família que já se foram, mas que um dia tiveram o privilégio de ir de Mogiana para Poços de Caldas"
Agradecimentos ao Wanderley Duck, filho do Sr. Rodolpho, que aparece na foto acima.
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
"Povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la".
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