quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A CARTA DE VENEZA

No site do Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- é possível encontrar muito material sobre o tema. Um deles, que foi utilizado hoje em entrevista pela mais alta autoridade do patrimonialismo histórico municipal, ao falar justamente sobre a Estação Mogyana, é a chamada Carta de Veneza, inserida no rol das Cartas Patrimonialistas. Diz o Iphan: "Uma maior e mais criteriosa abordagem sobre restauro aconteceu em 1964 com a elaboração da CARTA DE VENEZA - Carta Internacional do Restauro.
As cartas, ao longo do tempo, permanecem atuais e são complementadas por novas normas e recomendações que nos descortinam novos ou mais amplos procedimentos na preservação do patrimônio cultural.
Muitas Cartas, Recomendações e Leis propõem tipos de atitudes em relação aos bens patrimoniais, que é necessário analisar os conceitos nelas contidos para uma atitude consciente na adoção de políticas preservacionistas do patrimônio. O conteúdo delas interessa a todos os que lidam na área patrimonial: proprietários e moradores de bens tombados, advogados, professores, estudantes, detentores do poder local nos sítios históricos, organizações governamentais ou não, afins ao Iphan e até mesmo meros curiosos". Veja, é o Iphan falando de um documento que, apesar de quase 50 anos, é atualíssimo. 
  
Prendamo-nos à Carta de Veneza. De lá extraem-se alguns pontos interessantes, até mesmo para um "mero curioso". Já em seu artigo inicial, a Carta diz: "A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só as criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural".
   
O artigo 7º. do mesmo documento revela: "O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa", enquanto o artigo 13º. define que "Os acréscimos só poderão ser tolerados na medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações com o meio ambiente".
   
Diante disso, e como a Carta é uma referência usada pelas autoridades locais, fica claro que:
1- A Estação, queiram ou não, é parte integrante importantíssima, fundamental do patrimônio, independente das modificações que o prédio sofreu ao longo do tempo. É sim um sítio que dá testemunho da evolução de Poços de Caldas. A Plataforma (na foto acima, sendo massacrada em 6/2, nos "preparativos" para o carnaval), o piso, os trilhos e outros detalhes não são nada sem a Estação. São, portanto, inseparáveis no quesito preservação;
2- As casas da Rua Beira-Linha (bem como a caixa d´água ali existente e outros itens não tão à vista) têm, definitivamente, significação cultural, inclusive pelo fato de ali residirem, até hoje, ex-ferroviários e seus descendentes;
3- Se os acréscimos só são tolerados na medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio da composição e sua relação com o ambiente, é óbvio que a rampa metálica colocada na Plataforma, bem como o toldo de lona, a cerca de alambrado ou os muros sobre o leito da ferrovia são impróprios e devem ser removidos, por ordem de quem deve proteger o patrimônio: o Condephact. Ou não?
   
O espaço é democrático no Memória de Poços de Caldas. Discuta o tema.
  
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"Povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la".

4 comentários:

Ralph Mennucci Giesbrecht disse...

Está na cara que o atual prefeito não gosta da estaçõ e nem do passado da ferrovia. ;E um direito dele. Porém, já pensou se prefeitos europeus cismassem de, em cada mandato, derrubar alguns prédios históricos por que não acham que são importantes? Isso acontece no Brasil. O que um prefeito faz outro destroi por um motivo ou outro. Bens patrimoniais nao podem ser abandonados ou eliminados e pronto. É tao dificil assim? A ignorancia é terrivel. Parece que se está querendo tombar a cidade inteira (se bem que em certos casos isso deveria ser feito, nao por temos historicos, mas para cessar a danosa expansõ exagerada. São Paulo é um exemplo).

Alex Leão disse...

Eu percebo uma coisa, assim de imediato: é preciso alguém mais competente em matéria de história de Poços e de preservação do que infelizmente há hoje ocupando o cargo de presidente do Condephact.

Luciano disse...

Vergonha o descaso da Prefeitura com o patrimônio histórico da cidade. Notem que os ladrilhos estão trincando no local onde os veículos trafegam.

Regina Cardoso disse...

É uma pena.

De todo este imbroglio criado pela Prefeitura percebe-se que os técnicos viraram marionetes na mão dos políticos.

O presidente do órgão do patrimônio, ao invés de cumprir com a sua obrigação de defendê-lo, busca na interpretação deturpada das normas e leis que regem a questão uma justificativa para o uso inadequado.

Dizer que os prédios tombados precisam ser usados? O prédio da Estação Ferroviária já está sendo utilizado pela Secretaria de Turismo. Até aí tudo normal, desde que se estabeleçam critérios. Ninguém discute isso.

Mas com certeza não se admite o uso para o carnaval. Este uso vai na contramão do interesse de preservação do imóvel. Qualquer leigo é capaz de compreender isto.

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