Vejam só como (não) andam as coisas em Poços de Caldas. Refiro-me, claro, à questão da preservação do patrimônio ferroviário e de uma futura reativação do trecho ferroviário urbano -nem digo mais "eventual" ou "provável", pois só políticos com cérebros de inseto dariam as costas para um assunto que vem ganhando destaque e, principalmente, verbas para incrementar a presença dos trens no mapa turístico e logístico brasileiro. Depois das turbulentas semanas de discussões, entrevistas coletivas, demissões, alianças e rupturas improváveis protagonizadas pela chamada elite política de Poços de Caldas, fica claro que não há idiotas ocupando cargos de relevo na administração.
Desde agosto de 2011, quando protocolei na Secretaria Municipal de Planejamento um dossiê contendo pedido de tombamento do acervo ferroviário ainda não protegido da cidade, somado à apresentação de um material que, modestamente, abordou com profundidade a importância histórica da ferrovia em Poços de Caldas, e para o qual não obtive até o momento a menor manifestação formal -positiva ou negativa- de qualquer ente do Poder ou mesmo do próprio Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, tenho me surpreendido com a presença de autoridades nos diversos meios de comunicação, sempre com aquele olharzinho brilhante quando se referem ao passado glorioso da ferrovia, imediatamente desviado para falas que transitam entre "utopia" ou "sonho impossível" a volta da circulação de trens na cidade.
Duro saber o que é pior: a tentativa de esvaziar uma ideia que não veio dos gabinetes ganhando muitos adeptos diariamente (a petição pública demonstra bem esse fenômeno) ou ver que o tema "ferrovia e preservação do patrimônio ferroviário" vem sendo invariavelmente ignorado pela chamada "mídia oficial", que tem como expoente máximo o site da prefeitura municipal, meio cujo comando cabe ao secretário José Carlos Polli, jornalista recentemente guindado também (de novo) à pasta do turismo.
Não gosto de chavões, mas o multifacetado secretário "juntou a fome à vontade de comer" e passou a frequentar, em pessoa, mais do que se imagina -e talvez se tolere- o noticioso oficial. Não é da minha alçada, definitivamente, mas o caminho para a super-exposição parece aberto. A mais recente aparição está no link que trata do encontro do secretário com representantes do Poços de Caldas Convention Bureau. O encontro teria o objetivo de "firmar novas parcerias em ações turísticas", de acordo com a nota oficial. Entre essas ações estão assuntos de sempre: blitz no sorumbático portal da cidade durante o carnaval; capacitação de taxistas e charreteiros; participação em feiras de turismo; trabalho em conjunto com o Conselho Municipal de Turismo. Veja bem, charretes, assunto que não sai de moda. Resolvam as charretes e teremos uma nova cidade!
De concreto, nenhuma palavra, linha, citação ou referência ao tema ferroviário, nesse ou em qualquer outro material oficial. Não existe, como não parece não existir discussão além dos muros da sociedade civil, organizada ou não. A prefeitura ignora a importância da transporte ferroviário para o futuro da cidade, como se fosse proibido, censurado, tratar nos gabinetes a pauta em que tenho sido persistente.
A prefeitura demonstra ignorar a realidade brasileira, que não apenas luta para salvar a história nacional, como produz diariamente milhares de adeptos dos passeios nos muitos trens turísticos -no momento em que escrevo acabo de desembarcar do trem paranaense que liga Curitiba a Morretes, uma viagem fantástica de cerca de três horas pela Serra do Mar, que passa por dezenas de túneis e pontes seculares (foto acima), lotado em pleno meio de semana!
Talvez a "crise" que limita cafezinho e combustível na prefeitura impeça nossas autoridades de conhecerem projetos turísticos como esse ou o de São Lourenço, entre outros. Há ainda o de Jaguariuna, que fica entre Poços de Caldas e Jundiaí, cidade natal do secretário de turismo, e uma paradinha lá poderia facilitar a compreensão de um projeto dessa magnitude para uma cidade como a nossa, que se pretende turística, o que talvez comova o suficiente para fazer alguma autoridade de Poços de Caldas ir atrás das verbas federais para os trens turísticos, como já cansei de indicar até com links de cartilhas do Ministério do Turismo. Não posso pleitear essas verbas, só o Poder tem essa prerrogativa. Se eu pudesse...
Importante ressaltar que o trem turístico do Paraná circula pela capital do Estado, transita por bom trecho urbano e compartilha os trilhos com trens de carga da ALL, enquanto em Poços de Caldas o secretário de turismo defende a transformação do leito ferroviário urbano em uma "estrutural", palavra que enche a boca mas de efeito nulo, pois é óbvia a inviabilidade do local para uma avenida, sem contar a necessidade de obras para o transporte público, não para automóveis.
A prefeitura demonstra ignorar a realidade brasileira, que não apenas luta para salvar a história nacional, como produz diariamente milhares de adeptos dos passeios nos muitos trens turísticos -no momento em que escrevo acabo de desembarcar do trem paranaense que liga Curitiba a Morretes, uma viagem fantástica de cerca de três horas pela Serra do Mar, que passa por dezenas de túneis e pontes seculares (foto acima), lotado em pleno meio de semana!
Talvez a "crise" que limita cafezinho e combustível na prefeitura impeça nossas autoridades de conhecerem projetos turísticos como esse ou o de São Lourenço, entre outros. Há ainda o de Jaguariuna, que fica entre Poços de Caldas e Jundiaí, cidade natal do secretário de turismo, e uma paradinha lá poderia facilitar a compreensão de um projeto dessa magnitude para uma cidade como a nossa, que se pretende turística, o que talvez comova o suficiente para fazer alguma autoridade de Poços de Caldas ir atrás das verbas federais para os trens turísticos, como já cansei de indicar até com links de cartilhas do Ministério do Turismo. Não posso pleitear essas verbas, só o Poder tem essa prerrogativa. Se eu pudesse...
Importante ressaltar que o trem turístico do Paraná circula pela capital do Estado, transita por bom trecho urbano e compartilha os trilhos com trens de carga da ALL, enquanto em Poços de Caldas o secretário de turismo defende a transformação do leito ferroviário urbano em uma "estrutural", palavra que enche a boca mas de efeito nulo, pois é óbvia a inviabilidade do local para uma avenida, sem contar a necessidade de obras para o transporte público, não para automóveis.
Agora, entra em cena o novíssimo Poços de Caldas Convention Bureau. Desse, espero uma atitude diferente da que venho encontrando por parte da prefeitura, especialmente das secretarias de turismo e de planejamento -por falar nisso, tem planejado o quê? Espero também uma atitude diferente do Condephact, cujo comando parece só ter olhos para o Palace Casino e Thermas -justamente para onde foram canalizadas as milionárias verbas estaduais para reformar os prédios.
Para constar, já há notícias de que o governo federal tem emendas de mais de R$ 150 milhões em seu orçamento para obras ferroviárias no chamado Circuito das Águas paulista, colocadas no orçamento por deputados paulistas, que trabalham em conjunto com prefeitos da região, enquanto aqui nossos representantes estão preocupados com a sucessão na Francisco Salles. Nenhum político local até agora abraçou a questão da ferrovia com a firmeza que se espera, o que, convenhamos, pode ser bom, pois tem gente que bota a mão nas coisas para estragar.
Fechando o assunto, continua recebendo assinaturas a petição pública que pede melhorias no patrimônio ferroviário e a reativação da linha ferroviária, destinada ao prefeito de Poços de Caldas. Já somos 711 assinantes -e nenhum vereador "ousou" colocar seu nome lá arté agora!
Estou à disposição de quem quiser conversar sobre o assunto, ou ver uma apresentação com mais de 60 imagens e bom conteúdo, ou conhecer o dossiê resultante de mais de três anos de pesquisa sobre a questão ferroviária em Poços de Caldas. Vou muito além do jornalismo e da crítica. E espero que o secretário de turismo vá além do arroz-com-feijão que vem caracterizando seus antecessores, com suas repetições e tropeços intermináveis.
Rubens Caruso Jr.
"Povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la".
7 comentários:
O transporte rodoviário criou raízes fundas nos brasileiros, a ponto de ser considerado praticamente o único que qualquer pessoa deva usar... quando é muito longe, pegue o avião. Porém, ninguém se lembra que o melhor transporte em termos de conforto é o trem, E acabaram com ele!!!! E mais: uma cidade como Poços, que cresceu por causa do trem, esquece-o em sua memória. Para que serve a memõria afinal? Ao contrário do que se diz que ela não serve para nada, o legal é olhar a vida de frente, viver o momento agora e o resto que se dane, a memória é exatamente o que forja uma nação. Sem memória não há nação. E que não digam que o Brasil é uma nação, realmente. Claro - não tem memória!
Desse mato (administração atual) não sai coelho...vamos aproveitar a campanha eleitoral pra levantar a lebre de vez!Interessante ressaltar que,caso se confirme a construção do famigerado presídio local,a paisagem da ferrovia se verá livre daquele pardieiro medonho que atualmente serve de jaula para os meliantes e fascínoras em nossa cidade!
Caruso,
conforme você mencionou, recursos realmente existem. Tanto em termos de contratos de financiamento como recursos a fundo perdido, via Orçamento Geral da União.
Mas parece que a classe política que reina em Poços de Caldas, não consegue se dar conta de que seu modelo de fazer política está ultrapassado.
Percebe-se, com clareza, que nossa cidade está parada no tempo, permeada de discursos vazios de autosuficiência ou grandeza, enquanto os recursos disponíveis são drenados para outros municípios.
Merecemos mais. E torço para que a população se dê conta disto no momento em que for chamada às eleições.
Excelente, Caruso. Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas vão aprendendo que medidas imediatistas e sem planejamento não valem mesmo a pena. Elas geram problemas ainda maiores.
Trocar avenidas por trilhos é uma burrice já rechaçada em muitas cidades que as implantaram no passado.
Cada vez mais essa história de ferrovia será melhor compreendida, tanto pelos governos quanto pela população. Isso pra mim é um fato. Cada vez mais o trem é entendido como o transporte do FUTURO e não do passado como pensa muita gente superficial. E a autoridade que primeiro abraçar esse projeto terá um diferencial enorme em relação à mesmice das outras. E quem vai ganhar é Poços de Caldas.
RALPH, ao ler seu comentário vem à mente não apenas a questão ferroviária, mas a "modernização" da Thermas, cujas banheiras históricas estão amontoadas numa beira de lago, sem vigilância.
RAFAEL, é verdade. O trem passará bem em frente do xilindró, pardieiro local denominado "presídio". Lembre-se que houve até uma lei municipal inconstitucional "proibindo" construir cadeias em Poços de Caldas.
CARMEN, perfeito: o modelo político local tanto é ultrapassado que ruiu. Não só os recursos financeiros estão indo para municípios que usam a inteligência política para captar verbas, como Minas anda fornecendo material ferroviário para outros estados.
GLÁUCIO, é verdade. Se por um lado brada-se que o trânsito em Poços de Caldas é caótico, de outro há mentes que pregam mais avenidas para esses carros, ignorando o transporte coletivo, inclusive o ferroviário.
Saudações.
É triste ver a cidade que nasci, tratar a história desta maneira. Pior é que Poços é uma cidade turística, bem localizada, com 150 mil habitantes, desenvolvida, com grandes empresas e universidades - inclusive com cursos de Arquiterura e Turismo.
ANÔNIMO, exclua da sua lista o curso de Turismo, que não consta mais da relação da PUC Poços (http://www.pucpcaldas.br/ , guia "Graduação").
Saudações.
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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .