terça-feira, 13 de dezembro de 2011

PESADELO SEM FIM?

"Maria-Fumaça" é o apelido carinhoso pelo qual muitos brasileiros se referem às clássicas locomotivas a vapor. Para funcionar, essas máquinas precisam de uma fonte de calor e água, convertida em vapor para executar a função mecânica de movimentar o veículo. Para armazenar a água e abastecer as caldeiras das locomotivas, as empresas ferroviárias usam grandes caixas d'água junto ao leitos das ferrovias.
  
Em Poços de Caldas, são duas as caixas d´água remanescentes da Cia. Mogyana, empresa ferroviária que criou o Ramal de Caldas, cujo final é justamente a Estação localizada no centro da cidade: uma caixa está instalada desde 1886 onde hoje é a  Praça dos Imigrantes; a outra está na rua Beira Linha (fotos abaixo).
Desde 2008 tem gente de olho na segunda caixa. O Condephact -conselho que tem por missão defender o patrimônio histórico de Poços de Caldas- teria encaminhado um ofício, solicitando ao Ministério Público estadual um posicionamento sobre a cessão precária do patrimônio, e o MP teria respondido que não se oporia à deliberação do Conselho desde que a mesma fosse mantida em local acessível ao público, com visitas sem restrição; se existisse autorização legal e/ou administrativa para utilização de bem público em benefício particular, com medida compensatória (restauração, por exemplo) e se a cessão seja limitada ao prazo de cinco anos, oportunidade em que deve ocorrer renovação da deliberação de cessão pelo poder público e pelo Condephact de Poços de Caldas, entre outras exigências.
   
Ora, é o Condephact pedindo a mudança de local da caixa d´água que está desde sempre naquele lugar! É essa a função do Conselho? Trata-se de pleito sem sentido: a caixa está em sua instalação original e um particular quer tirá-la de lá; o Conselho não apenas endossa o pedido como ainda vai ao MP para tentar dar um ar de legalidade a essa aberração com uma peça tão importante do patrimônio ferroviário?
   
Nessa linha, o Condephact poderia fazer uma lista e sair oferecendo os bens históricos a quem se interessar: o Girador de Locomotivas, os ladrilhos da Plataforma, as estruturas metálicas da Estação, os postes telegráficos, a ponte do São Geraldo... não vai faltar gente interessada!
   
O patrimônio ferroviário é de todos, e o de Poços de Caldas é uma verdadeira joia por ainda manter muito de sua originalidade. Não vai ser removendo os bens de seus locais que vamos preservá-los. Se a prefeitura usa o prédio da Estação, nada mais correto que o mantenha em perfeitas condições e com uso adequado e distintivo, e seus acessórios também, o que não vem ocorrendo. Não se sabe o desfecho do pleito.
   
Fica então o pedido ao MP: oponha-se a essa ideia ilógica do Condephact, e exija da prefeitura não apenas a preservação do espaço tombado pela própria prefeitura, mas também de todo acervo ferroviário. O conselho continua devendo uma manifestação sobre o pedido de tombamento do remanescente da ferrovia (protocolado em 4 de agosto de 2011), o que inclui, claro, a caixa d´água da rua Beira Linha.
   
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
   

1 comentários:

EFGoyaz disse...

Caramba! E onde está a população de Poços de Caldas? Será que todo mundo vai aceitar essa destruição calados? Será que acham isso normal? Qual a vantagem para a cidade que ela aos poucos vá perdendo sua originalidade?
Não seria muito melhor, daqui uns 50 anos terem o orgulho de falar: esse é o pátio original funcionando, com tudo no lugar, como sempre foi?

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .