segunda-feira, 19 de setembro de 2011

LETREIRO DA THERMAS

"Eu Não Cuidei...
Todos que lêem jornais, devem estar lembrados do trágico desastre de aviação, ocorrido no dia primeiro deste mês em Laranjal, no vizinho estado de São Paulo.
Um avião particular viajava para Lins, naquele estado, perfazendo a comitiva governamental, que oficialmente, visitava essa rica zona paulista.
Densa névoa seca naqueles ares, em tal data. Pouca visibilidade. Esse avião atinge Laranjal. E, ao invés de continuar rumo a Lins — fica sobrevoando sobre aquela cidade. E vai abaixando o vôo. E abaixa mais. Rodeia, por diversas vezes, a estação da estrada de ferro. Parecia, aos que acompanhavam com os olhos curiosos essas manobras, que voava “aflitamente”...
E, a seguir, baixinho já perdendo velocidade, o aparelho voador inclina-se em “facão” e cai pesadamente no solo, espatifando-se.
Ocorre gente ao local. Os tripulantes estavam todos agonizantes.
E eram eles; o oficial de gabinete do interventor Ademar de Barros. O diretor da grande empresa de navegação aérea, Vasp. Um oficial da casa militar do interventor paulista. E um engenheiro, da alta sociedade paulistana, então pilotando o avião sinistrado.
Luto no grande estado e em toda nação brasileira, pelo trágico acidente.
Dor pungente nos corações de quatro famílias patrícias.
Quatro vidas preciosas que desapareceram, de um minuto para outro.
E tudo, tudo -dizem os técnicos de aeronáutica -porque não havia sobre um simples telhado da cidade de Laranjal, um letreiro bem visível: Laranjal...
“E pensar que apenas isso, que apenas aquela palavra seria o bastante para que recobrassem a calma necessária ao absoluto governo do aparelho!”
Sim, porque, segundo o depoimento dos que assistiram ao desastre, os entendidos de aviação afirmam que o avião estava desorientado. Perdido. Não sabia sobre onde voava! E aquele letreiro os salvava. E pouparia a todos, tal perda. 
Nos países adiantados em aviação, as cidades têm os respectivos nomes escritos, em bem visíveis caracteres sobre telhados, praças ou campos. O aviador “perdido”, por aí se orienta.
Em Poços de Caldas já se deu, há uns três anos atrás, um acidente, que felizmente, foi de pouca monta.
Um avião da marinha norte-americana surgiu em nossos céus. Procurou por todos os nossos arredores, o nosso antigo e então único campo de pouso. Nada. Não havia sinal algum. Os aviadores resolveram descer no campo de golfe do nosso Country Club. E o fizeram. Quebrou-se o trem de aterrissagem. O aparelho capotou espetacularmente. Eles, porém, escaparam a coisas mais graves que o susto e alguns arranhões...
Parece-me que não há mais necessidade de me alongar, aqui, para dizer, a vós, meus heróicos leitores, que Poços de Caldas deve estar escrito sobre um dos nossos telhados. E, aliás, estes, os temos grandes, ajeitados e no centro da cidade.
Não só a palavra Poços de Caldas. Mas, possivelmente, uma seta indicando mais ou menos, o rumo do nosso importante e moderno aeroporto.
Um letreiro, por exemplo, sobre o telhado do Pálace Hotel, com uma seta (que pode ser sobre outro ponto qualquer da estância), seria o suficiente para orientar o piloto menos prático destas rotas.
Dentro de breves dias Poços de Caldas, mercê de Deus e dos homens, será um do maiores centros para onde convergirão dezenas e dezenas de aviões de turismo como, hoje, os dos automóveis.
Não tenhamos, pois, que lamentar, mais tarde desastres de conseqüências graves e lutuosas, como é muito possível apenas por não cuidarmos...
São célebres os versos de muito sabor clássico:
“Eu nunca louvarei
O capitão que o diga:
Eu não cuidei...”
O letreiro sobre a cidade, além de ser um ato de prudência, de precaução, — dá até uma nota distinta de civilização e progresso, para os que demandarem a nossa querida Poços, por via aérea.
E, quebrando a relativa gravidade destas linhas sem pretensão, eu terminarei com a sentença do Quinzinho do Brejo-Fundo: O que não pogrede e não miora... pioréia...".
  
A crônica acima, de 30 de outubro de 1938, foi extraída da obra de "LÉO FERRER EM VIDA", de Hugo Pontes, que conta: "Pesquisar  sobre  a  vida  e  resgatar  a  obra  de  Leopoldo Ferreira, mais que um fato literário, para mim é um compromisso com a história e memória da cidade de Poços de Caldas. Léo Ferrer, pseudônimo literário do autor, ofereceu, com sua intelectualidade e inteligência, muito para todos, a fim de que pudéssemos -hoje- compreender melhor a história da cidade ao tempo em que ele viveu. O  escritor  foi  um  homem  com  idéias  além  da  sua  época. Apontou caminhos a seus contemporâneos, ensinou as gerações mais novas e projetou um estilo para vários escritores locais.
O cronista elegante e sutil pôde manter viva a sua memória entre  seus conterrâneos,  e  seus  escritos  perduraram  entre  nós, porque soube cantar sua terra e a paisagem local, seus costumes, personagens e a história. Não deixou livros publicados".
  
A foto-postal acima, do acervo do Memória de Poços de Caldas, parece confirmar a execução da ideia de Ferrer. E não deixa de ser uma sugestão deste site para a reforma pela qual passa o Balneário: que tal reviver o letreiro "Poços de Caldas" no telhado da Thermas?

1 comentários:

Rafael Ferreira disse...

Atentei pra esse detalhe tempos atras quando alguns amigos de minha irmã (que mora em São Paulo)revelaram não entender o sentido de tal letreiro...claro que é,pra não dizer outra coisa,exagero pensar que seriam as ''Thermas DO Antonio Carlos''mas dei razão a eles...por mais notório que tenha sido o Nobre presidente das Minas Geraes,a homenagem soa exagerada!

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .