"Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 777 a 783, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):
Poços de Caldas
Este município deve a sua denominação à lembrança das afamadas águas das Caldas da Rainha, em Portugal. A sua origem se encontra em um arraial, situado na extensa sesmaria dos Costas Junqueiras. O antigo arraial desapareceu para dar lugar à pitoresca vila de Poços de Caldas, hoje transformada em moderna cidade de águas, com ruas bem calçadas e bons edifícios. Um pequeno rio, hoje canalizado, corta a localidade. O renome de Poços de Caldas provém de fontes termo-sulfurosas descobertas em 1876.
O município de Poços de Caldas, subordinado a um prefeito da livre escolha do governo de Minas Gerais, tem uma superfície de 17 léguas quadradas e está situado ao Sul do estado de Minas Gerais, sendo servido por um ramal da Estrada de Ferro Mogiana. A população da vila é diminuta para a extensão do seu território, pois representa apenas 6.000 habitantes. A povoação está situada 1.200 metros cima do nível do mar e goza de um clima extremamente saudável.
As fontes termo-sulfurosas de Poços de Caldas são em número de quatro: Pero Botelho, 46º centígrados; Chiquinha, 44,6º; Mariquinhas, 44º; e Macacos, 41º. O uso destas águas é recomendado aos doentes de moléstias crônicas, tais como reumatismo, moléstias da pele, úlceras etc.
A vila de Poços de Caldas tem progredido muitíssimo nestes últimos nos, graças à ação combinada do prefeito, sr. Francisco Escobar, e da Companhia Termal. Hoje, tem o município 1.000 prédios, mais ou menos, dos quais 700 na zona ocupada pela vila. Esta é iluminada à luz elétrica, compreendendo tal serviço 80 lâmpadas de arco voltaico e 50 lâmpadas incandescentes. A iluminação particular compreende 45 lâmpadas de arco voltaico e 1.630 lâmpadas incandescentes.
A usina geradora tem 15,65 x 7,60 m e é provida de um regulador hidráulico Sturgess; a linha de transmissão tem 4.640 metros, e para a produção de energia elétrica são aproveitadas as águas de uma bela cachoeira, próxima à vila.
Poços de Caldas possui um excelente serviço de abastecimento de água, que dá uma média de mais de 200 litros por habitante. O comércio conta com regulares recursos, tendo a maior parte das casas comerciais relações diretas com as praças de São Paulo e Rio de Janeiro.
A indústria compreende 8 engenhos, um de cana e sete para serrar madeiras; 18 fábricas, a saber: 10 de doces, uma de cerveja, duas de fogos, uma de sabão, uma de manteiga, uma de torrefação de café e duas de macarrão; e mais cinco olarias. A vila tem 9 hotéis de diversas categorias. O número de criadores de gado e fabricantes de queijo ascende em todo o município a 23, e são em número de 8 os fazendeiros de café. A colheita do município vai a 50.000 arrobas.
O ensino primário é ministrado em quatro escolas públicas e cinco particulares; e para o ensino secundário há o colégio Santo Domingo. Poços de Caldas possui cinco clubes recreativos, três cinematógrafos e um belo teatro, o Polytheama, com um palco de 10 x 12 m. Em 1910, a receita arrecadada no município foi de Rs. 128:085$561, o que constituiu um aumento de Rs. 46:752$293 sobre a do ano anterior.
Coronel Francisco Escobar - O coronel Francisco Escobar, prefeito de Poços de Caldas, nasceu em 1865, em Jaguari, onde foi educado. Aí advogou, de 1886 a 1889. Por esta época, passou a residir no estado de São Paulo, onde exerceu a sua profissão até 1909, ano em que foi escolhido para prefeito de Poços de Caldas. Neste posto, tem revelado a maior dedicação pelo município; e é principalmente à sua ação enérgica que se devem os grandes melhoramentos ali executados nos últimos anos. O coronel Francisco Escobar é proprietário no estado.
José Piffer - O sr. José Piffer, engenheiro arquiteto, nasceu em 1872 em Bozeu, Tirol (Áustria), e estudou arquitetura em Rünchein (Alemanha). Veio em 1890 para o Brasil, onde exerceu a sua profissão, durante 4 anos, em São Paulo. Durante a construção da nova capital do estado de Minas Gerais, em que tomou parte, desenhou e construiu o sr. Piffer numerosos edifícios públicos e particulares, tais como a Faculdade Livre de Direito e a Santa Casa de Misericórdia. Indo para Campinas, em 1905, reconstruiu a Matriz de Santa Cruz, e projetou e construiu o edifício do Centro Ciências, Letras e Artes, Colégio do Sagrado Coração de Jesus, Casa Alemã (filial). Traz muitas obras em construção pelo interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Em Ribeirão Preto, dirigiu a construção da catedral e projetou o Palácio Episcopal.
Sendo chamado a Poços de Caldas, construiu a Matriz, a Prefeitura Municipal e, por conta própria, construiu ainda o Polytheama-Theatro-Casino e o Grande Hotel.
Com a fusão das águas Samaritana e Rio Verde, em Caldas, fundou o sr. Piffer a Companhia Melhoramentos Poços de Caldas e pretende construir um estrada para tração elétrica ou automóveis até Caldas (Pocinhos Rio Verde), onde também haverá um grande hotel e cassino. O sr. Piffer ficará sendo o diretor técnico da empresa".
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