Poços de Caldas não é apenas uma cidade com ruas largas, praças e jardins esplendorosos. É uma localidade para ser vista por todos os sentidos. Uma cidade para ser saboreada, ouvida, olhada, e amada com suas cores, aromas e sabores.
A preocupação com a ecologia não é algo novo. Joaquim Floriano Godoy, o primeiro a pensar tais paragens, em 1870, como uma futura e grandiosa cidade, ao decretar a desapropriação das áreas de interesse comum, já determinava o cuidado com matas ciliares que margeavam nossos ribeirões. Outros administradores também souberam cuidar e preservar para os dias de hoje. Não canso de mencionar que a cidade é uma bela obra de engenharia e arquitetura. Parece exagero, mas, há minúcias na urbanização de Poços de Caldas que não podem jamais caírem no esquecimento.
Toda a área central onde se localizam nossas principais praças e jardins e parte das ruas, nada mais eram que um grande lamaçal, um verdadeiro pântano cheio de selvagem vegetação e águas paradas. Existiam “pinguelas”, pontes improvisadas com troncos de árvores para se passar de um lado para outro. Tão precário era o centro da urbe que pessoas perderam a vida ao tentar atravessar tal área lamacenta.
Nas imediações do antigo mercado, atual Casa Carneiro, a vala era de tal profundidade, que os primeiros prefeitos pensaram em fazer ali um grande lago para praticas náuticas. Toda a Avenida Francisco Sales foi construída sobre o lamaçal. Centenas de carroças com tração animal e muita terra e toras, deram à cidade nossa bela avenida.
Toda a região do Palace Cassino, parque José Afonso Junqueira, Praça Eliziário Junqueira (onde estão o Leãozinho e o Calendário Floral) e imediações, são resultantes de trabalho hercúleo de homens e animais para que Poços de Caldas tivesse sua área mais nobre.
O lamaçal de águas fétidas e plantas selvagens foi drenado com muita terra da Serra do Selado e do morro do Itororó, e troncos de árvores que quase se petrificam em condições úmidas criando estrutura sólida.
O segundo prefeito da cidade, Juscelino Barbosa, ao prestar contas ao governador do estado, informa até onde foi empregada a terra de tal morro, que começava em plena Rua Assis. Porém, toda a área central se tornou um deserto, nada de vegetação. O chamado Jardim Inglês ou Largo Senador Godoy era mesmo um verdadeiro Saara, completamente árido e sem vida.
Chega mais um prefeito ousado e quase esquecido pela história, João Benedito Araújo, que governou a cidade de 1922 a 1925.
Tal prefeito construiu no alto do morro da Santa Cruz, onde ainda existe a capelinha do mesmo nome, reservatórios de água, e conseguiu bombear água do ribeirão que vem da Cascatinha, com todos seus nutrientes, para o alto do morro.
Cobriu todo o aterro destinado aos jardins com terra fértil e passou a regá-lo com toda a água armazenada no morro da Santa Cruz. O resultado é visível ainda hoje: nossos belíssimos parques e jardins. Nem ocorre aos presentes usuários que tudo aquilo é um grande aterro e muito esforço de um tempo em que os administradores plantavam para os pôsteres da cidade.
Depois chegaram Pederneiras, o grande arquiteto, e Dierberger, o construtor de praças e jardins.
As matrizes de beija-flor, oferecidas por Assis Chateaubriand, e, até o Guapuruvu, nome popular de uma espécie que, em São Gonçalo do Sapucaí, chama-se “Árvore da Baronesa”. Tal espécie foi introduzida em Poços de Caldas por Pedro Sanches, no fundo do seu consultório no parque José Afonso Junqueira.
Tal local, que primeiramente foi construído para hospedar Dom Pedro II, em 1886 e, depois de Pedro Sanches, foi também consultório dos médicos Renan e Gil Monteiro.
Do lamaçal nem lembranças. Sob a luz do sol e a algazarra dos pássaros, temos hoje as encantadoras alamedas perfumadas por inebriantes magnólias.
São palmeiras imperiais, belas paineiras, dentre outras espécies, vindas de vários pontos do Brasil e do mundo e também, esculturas especiais de Starace em Salús et Vita na praça principal, ou Petrucci eternizando o pai da estância no busto de Pedro Sanches ao lado do Palace Hotel.
Cada palmo da cidade tem uma história que o liga a uma centena de trabalhadores anônimos, do operário braçal ao administrador, que deram muito de si para o nosso deleite de hoje. Éden de Minas engastado na Serra da Mantiqueira.
Do som das fontes ao cantar dos pássaros ou, o perfume das flores, é Poços de todos os sons, tons e sabores, ou as deliciosas lembranças. Quem não correu, brincou, sonhou!
Quem não se enamorou e não amou nas colunas do pergolado da fonte luminosa?
Olhando para a serra de São Domingos, uma cortina verde ao norte, parque de preservação ambiental que se liga à parte residencial da cidade, tudo é verde, fauna, flora e vida.
Já foi chamada de “cidade encantamento”.
Vista de longe nem se notam as pequenas agressões pelas quais passou no decorrer do tempo. Aliás, previstas pelo primeiro prefeito de Poços de Caldas, Dr. David Benedito Ottoni, que ainda em 1905, sonhava com uma rodovia perimetral ligando a cidade de leste a oeste e, ao mesmo tempo protegendo a fralda da mata, pois seria construída no limite da serra onde a natureza e a arte se encontram na Fonte dos Amores.
Agora, nosso parque de São Domingos está ganhando um plano de manejo e, quem sabe, aquilo sonhado pelo saudoso ex-deputado José Maria Chaves, durante a elaboração da Constituição Estadual de 1989, realmente se realize, teremos para as futuras gerações, algo mais a ver... Pelo menos na face da serra onde o Cristo de Zé Neto e Rafael Santos, de braços abertos avisa aos devastadores: Aqui é o limite do paraíso verde!
Poços é luz, aromas e cores, é arte. Cidade de todas as fontes, matizes e sabores.
Por todos os sentidos, a cidade ainda sobrevive como um grande santuário verde a ser amado e respeitado por todos. E se tudo isto é vosso, “Zelai pelo que vos pertence”.
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