Por Hugo Pontes
"Recuso-me a aceitar uma qualificação ou referência como sendo historiador. Não tenho o título. Prefiro, em função do que até agora realizei na área da pesquisa, a designação de memorialista. Dedico-me permanentemente à busca de fatos e registros que possam traduzir em uma boa narrativa histórica de fatos mineiros ou poços-caldenses (principalmente este), mesmo porque recebo muitas sugestões de amigos e das pessoas que me acompanham desde meus primeiros livros sobre histórias de Poços de Caldas.
Entretanto, o livro que eu gostaria mesmo de escrever seria sobre Francisco Escobar.
Intelectual, músico, administrador por excelência, Escobar foi prefeito em Poços de Caldas de 1909 a 1918.
Na sua gestão, Escobar estruturou a cidade para o turismo. Foi o grande prefeito que se voltou para a autêntica vocação da estância.
Em sua época, trouxe para a cidade verdadeiros artistas-construtores, decoradores, paisagistas e, sobretudo, humanistas como ele o era.
Em 1911 inaugura os prédios da Prefeitura, do Politeama, do Grande Hotel e do Mercado Municipal, verdadeiras obras da arquitetura local que, ao longo do tempo os govemantes que vieram permitiram que, em grande parte, fosse destruída.
Convidou para morar na cidade o maestro Guido Rochi, músico da orquestra de Toscanini, que veio fazer apresentações em São Paulo; outros nomes aqui se assentaram e deram grande contribuição para a cultura local.
Com a infra-estrutura alicerçada, segundo o escritor Jurandir Ferreira, a cidade entre 1920 até 1946, tornou-se um destino turístico sofisticado, uma vez que as pessoas vinham para a "Estação de Cura" e encontravam a diversão que atraía e mantinha o turista por um período igual ou superior a trinta dias.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de que na década dos anos de 1940 acontecia a Segunda Guerra Mundial e o turismo interno tornou-se a melhor opção de todos aqueles que viajavam para a Europa.
Os estabelecimentos de diversão, por sua vez, para manter os visitantes, traziam atrações artísticas como cantores, mágicos, malabaristas, teatro de revista, musicais, humoristas e toda a sorte de atrações que mantinham a cidade e os cassinos em permanente animação.
Ao final desse período áureo na opinião de alguns e miserável para outros, com a proibição do jogo pelo governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, Poços de Caldas sofreu um processo de atraso econômico acentuado. Mas, a partir dos anos de 1960, busca sua reestruturação econômica na mineração, na indústria, no comércio e nos serviços.
Hoje, muita coisa há para se fazer uma vez que parte dessa base econômica há alguns anos dá sinais de exaustão e enfraquecimento.
É preciso pensar alternativas que não seja "trazer indústrias". E essa alternativa está no fortalecimento do turismo, que é a vocação inicial.
É preciso pensar alternativas que não seja "trazer indústrias". E essa alternativa está no fortalecimento do turismo, que é a vocação inicial.
E, ao que tudo indica, precisamos encontrar outro Francisco Escobar, com a inteligência e sensibilidade para repensar Poços de Caldas, sem ficar atrelado aos interesses de grupos e pessoas que só pensam em seus bolsos, já recheados, enquanto a população, em média, ganha mísero salário mínimo".
Hugo Pontes é professor, poeta e jornalista.
Artigo publicado em 31 de dezembro de 2010 no Jornal de Poços. Bastante oportuno, levanta a discussão sobre os destinos dados aos patrimônios da cidade, conforme apontado na postagem Prédios Demolidos, que pode ser lida aqui. Abre espaço para um debate importante: a licitação da reforma da Thermas Antonio Carlos, obra que prevê entre outros "a troca de todas as banheiras e construção de uma piscina com água sulfurosa", de acordo com a Prefeitura, orçada em R$ 11,5 milhões.
Certamente uma modificação profunda e que, antes de efetivada, deve passar pelo crivo da população. A Thermas Antonio Carlos é um patrimônio do País.
Certamente uma modificação profunda e que, antes de efetivada, deve passar pelo crivo da população. A Thermas Antonio Carlos é um patrimônio do País.
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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .