O livro "Memorial da Companhia Geral de Minas", de Don Williams e Alex Prado, relembra:
"Visitante ilustre e constante era o Presidente Getúlio Vargas, principalmente no período do Estado Novo. Embora já estivesse vindo a Poços, suas estadas aqui se tornaram mais frequentes a partir de 1937, quando sua esposa, Darcy Vargas, sofreu um acidente automobilístico, provocado pela queda de uma grande pedra sobre seu carro na estrada Rio - Petrópolis. O presidente imediatamente trouxe a esposa a Poços para iniciar tratamento na Sala de Mecanoterapia das Thermas. Sentindo-se bem aqui, o casal presidencial e a filha Alzirinha, bem como um contingente de assessores, correligionários e políticos nacionais, começam a movimentar o Complexo Palace Hotel - Casino - Thermas.
Como em toda ditadura, havia arbitrariedades praticadas. Era conveniente estabelecer um ponto central para juntar políticos e assessores às custas do Estado de Minas Gerais, sem necessidade de pagar as contas de hotel a uma empresa privada. Percebendo isto, o governo mineiro rescindiu o contrato de arrendamento do Palace Hotel havido com Vivaldi Leite Ribeiro, e ordenou que o hotel fosse desocupado dentro de 24 horas. Então, Poços amanheceu com a Praça Pedro Sanches cheia de móveis empilhados. Assim, a Cidade, e principalmente o Palace Hotel e Casino se transformaram num verdadeiro playground para Getúlio, apelidado de Gegê, e seus seguidores. Diz a tradição que a Constituição do Estado Novo, que instituiu novamente umna ditadura de Getúlio em 1937, tenha sido escrita por Chico Campos, no saguão do Palace Hotel de Poços de Caldas".
Mas as temporadas de Getúlio Vargas em Poços de Caldas protagonizaram momentos mais picantes, e estão narradas em seu diário. Deve-se à Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta de Getúlio, a publicação, em 1995, do Diário de Getúlio Vargas, que ficou guardado durante anos por Alzira Vargas do Amaral Peixoto, mãe de Celina.
Registrou Getúlio, em 1937:
"Já na estação de Poços de Caldas... O encontro com minha mulher, postas de parte algumas queixas habituais foi afetuoso e conciliador. Mas estou inquieto e perturbado com a presença daquela que me despertou um sentimento mais forte do que eu poderia esperar. O local, a vigilância, as tentações que a rodeiam e assediam não permitem falar-lhe, esclarecer situações equívocas e perturbadoras. Amanhã, talvez, um passo arriscado ou uma decepção. O caminho se bifurca - posso ser forçado a uma atitude inconveniente.
Dias 28 e 29 de março: O encontro realizou-se, a inquietação passou. A bondade divina não me abandonou. Amanhã deverei novamente enfrentar o risco que a força incoercível de um sentimento me inspirou e impeliu. Novamente inquieto.
Dia 30 de março: Levanto-me cedo e vou ao rendez-vous previamente combinado. O encontro deu-se em plena floresta, à margem de uma estrada. Para que um homem de minha idade e da minha posição corresse esse risco, seria preciso que um sentimento muito forte o impelisse. E assim aconteceu. Tudo correu bem. Regressei feliz e satisfeito, sentindo que ela valia esse risco e até maiores. À tarde, joguei a partida habitual de golfe e, à noite, fui ao jantar que me ofereceu o prefeito no cassino. Compareceram o interventor do estado (Benedito Valadares) que tem me acompanhado assiduamente.... minha família e a alta sociedade aqui residente ou em estação de águas. Ela lá estava, sem contestação, a mais bela de todas".
Afinal, quem era "a mais bela de todas", a "bem-amada"? Getúlio deixou uma pista nos escritos. Bem-amada, em português, é "bien-aimé" em francês. Acrescentando-se a letra "e" ao verbo temos Aimée, o nome da amada -Aimée Soto-Maior de Sá, depois Aimée de Heeren. "Era considerada a brasileira mais bonita, elegante e charmosa de seu tempo; sabe-se agora, com 99,9% de certeza, que Aimée era a “bem-amada” a que Getúlio se referiu em seus diários", relata a repotagem de Marco Damiani para a revista Isto É. Aimée era então casada com o chefe de gabinete de Getúlio.
Há espaço para investigar detalhes interessantes, como a floresta à margem de uma estrada. Onde seria? Já o prefeito que ofereceu o jantar a Getúlio no Casino foi Francisco de Paula Assis Figueiredo.
0 comentários:
Postar um comentário
Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .