A história dos cassinos em Poços de Caldas tem início no século 19, quando a cidade era ainda uma pequena vila. Registros indicam que, por volta de 1890, os hotéis de então, já recebendo turistas em busca dos tratamentos terapêuticos proporcionados pelos banhos de água sulfurosa, ofereciam aos hóspedes alguns jogos, como forma de lazer durante as estações de cura a que se submetiam, em geral longas.
Considerada por muitos a Las Vegas brasileira, o jogo tornou-se um grande negócio para a cidade, empregando muita mão-de-obra e atraindo jogadores de todo o País, resultando por exemplo na existência de voos regulares para a cidade, partindo das maiores capitais brasileiras (então São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) após a inauguração do aeroporto em 1938. Por suas características, Poços de Caldas, guardadas as proporções, estaria mais para Monte Carlo do que Las Vegas. Mas esse é um ponto de vista pessoal do autor.
Como em toda cidade que abriga casas de jogo, essas passam a movimentar a economia, de onde vinham salários e gorjetas, muitas vezes na forma das próprias fichas de jogo, que circulavam como moeda regular na cidade. Especialmente nos meses de férias, as temporadas de verão e inverno eram épocas de festa para o comércio local. Ainda hoje é assim, mesmo sem os cassinos.
Foram muitos os estabelecimentos dedicados ao jogo em Poços de Caldas. Nomes como Rádium, Éden, Bridge Club, Caldense, Cassino "Velho", Ideal Cassino, Nacional, Social Club, Salão Biju ou Ideal Cassino estão entre os mais lembrados, apesar da carência de fontes para pesquisas mais profundas. Talvez o arquivo morto da prefeitura disponha de alguma informação, mas esse é um trabalho de "arqueologia" complicado. Isso se o material não se perdeu numa operação-faxina ou mesmo por armazenamento inadequado.
Sobre alguns cassinos, tidos como os mais importantes, seja pelo tamanho, seja pelos shows ou artistas que receberam, é possível encontrar material fotográfico para relembrar os chamados "anos de ouro" de Poços de Caldas. Confira a seguir.
RECREIO DOS BANHISTAS
A foto acima é muito rara e mostra, ao centro, uma parte do Recreio dos Banhistas, que começou a operar em 1905 pelas mãos de Teodoro do Vale, empresário do jogo na época. Antes de se tornar cassino, o prédio era a antiga casa do Coronel Agostinho Junqueira, localizada junto ao "Hotel da Empreza", e formou uma pioneira parceria entre o hotel e o cassino. O local onde se situava o Recreio é hoje o Parque José Affonso Junqueira. Consolidada a parceria e o sucesso do empreendimento, outros empresários adotaram a ideia, que tornou-se um grande negócio. O Recreio dos Banhistas, cassino que criou o conceito que transformou a cidade, operou até o final da década de 1910, dando lugar ao já planejado parque, em configuração diferente da que conhecemos hoje.
POLYTHEAMA
O Cine Teatro Polytheama abriu as portas em 1911, construído entre a Prefeitura e o Mercado Municipal, e marcou pelo luxo de suas instalações. Era prefeito à época Francisco Escobar, que entendia a importância de trazer para a cidade não apenas os turistas em busca dos banhos termais, mas que podiam e queriam apostar grandes somas e exigiam requinte. Os grandes eventos sociais de Poços de Caldas, incluindo algumas recepções e jantares de gala, aconteciam no Polytheama, construído como um teatro de ópera. Tal como o Recreio, o Polytheama uniu o cassino ao vizinho Grande Hotel, que contava com 110 quartos, 18 banheiros e chuveiros de águas sulfurosas. O conceito do hotel conjugado ao cassino é comum hoje em Las Vegas, de modo que o hóspede jogue no mesmo local e não se dirija a outros cassinos. Era conhecido como Cassino Caldense, que não deve ser confundido com o Clube Recreativo Caldense, que funcionou no Gibimba (veja a seguir). O Polytheama funcionou até 1946, quando o jogo foi proibido no Brasil. Demolido, o local abriga hoje um estacionamento.
CASINO "ANTIGO"
Abriu as portas em 1922 e foi demolido no final de 1930, ocasião em que estavam concluídas as obras do Palace Hotel. O Casino ficava onde hoje está a lateral do Palace Hotel paralela à Avenida Francisco Salles.
GIBIMBA
O Cassino Gibimba era de Biagio Varallo. Ficava num prédio onde havia mesas de jogos, além de bar e restaurante. Sem ostentar luxo, era um cassino bastante popular, e permanecia aberto durante a noite, apresentando shows de músicos e artistas nacionais e internacionais. O Gibimba também funcionou até 1946. Hoje, no local, está uma galeria de lojas e uma agência do Banco do Brasil, defronte a Praça Pedro Sanches.
O Ao Ponto é dos anos 1920, e tinha como proprietário Nico Duarte, que arrendou o cassino a Américo Bordignon. O cassino tinha foco em grandes shows, tendo contratado até mesmo o músico Ary Barroso, compositor de Aquarela do Brasil, para integrar a "jazz band" do Ao Ponto. O cassino existiu até 1944, quando foi destruído por um incêndio. Em 1946, no local, foi inaugurado o Edifício Bauxita, com 13 andares e 122 apartamentos e, segundo consta, uma estrutura inferior capaz de suportar ataques aéreos. No térreo do edifício está localizada a Câmara Municipal de Poços de Caldas.
CLUBE RECREATIVO CALDENSE
Inaugurado na década de 1930, funcionava no piso superior do Gibimba, oferecendo atrações como teatro, shows e, claro, jogos. Uma noite, parte do assoalho do cassino cedeu e, de acordo com o relato de Mário Mourão, "o salão repleto com uma assistência enorme afundou. Ainda por cima caiu todo o mobiliário, inclusive um piano, que poderia ter esmagado várias pessoas, tendo caído mais de 200, fora as que se machucaram em descida desabalada pela escada".
Construído na década de 1940 por Vivaldi Leite Ribeiro, antes arrendatário do Palace Hotel e que foi "despejado" por Getúlio Vargas, o Hotel Quisisana seguia também a receita que combinava hospedagem e jogo, contando com três andares e 250 quartos. O local mantém ainda hoje basicamente a estrutura da época.
LÍDER CASSINO
O Líder Cassino abriu as portas também na década de 1940, e era de uma família com tradição no ramo hoteleiro, os Kalil. No local funcionou até alguns anos o Cine São Luiz, hoje fechado e em situação deplorável, justamente num dos pontos mais movimentados da cidade, a Praça Pedro Sanches.
PALACE CASINO
"Cassino dos cassinos", o Palace foi concebido como parte de um conjunto composto ainda pelo Palace Hotel e a Thermas Antonio Carlos. As obras do Palace Casino foram iniciadas em 1928 e concluídas em 1930. O objetivo (alcançado) era tornar a Estância no mais completo e moderno balneário das Américas. Inaugurado em 1931, contava originalmente com um Salão Nobre, Salão Azul (para os jogos), um restaurante, o Palace Grill e outra sala de jogos menor, onde mais tarde ficou um auditório e um teatro. Tornou-se o cassino preferido da elite que vinha a Poços de Caldas, com seus enormes salões, lustres de cristal e e outros luxos. Artistas como Dalva de Oliveira ou Grande Otelo, entre muitos nomes, orquestras internacionais e políticos de elevado escalão eram presença constante. O traje obrigatório era a rigor. Em 1944, o Palace Casino pegou fogo. Foi recuperado, serviu durante muitos anos a todo tipo de festas, o que culminou na completa e vexaminosa deterioração do prédio. O Palace Casino encontra-se desde 2009 em restauração, incluindo a recuperação do teatro que havia no projeto original, escondido por décadas sob a Boate Azul.
CASSINO DA URCA
O Cassino da Urca foi construído em inacreditáveis quatro meses, até sua inauguração em 31 de dezembro de 1942. Frequentado por famílias abastadas, era palco para os mesmos artistas que se apresentavam na famosa Urca do Rio de Janeiro. Nomes como Carmem Miranda e o Bando da Lua, Almirante, Silvio Caldas e outros de prestígio internacional passaram por lá.
O Cassino fechou em 1946, também com a proibição dos jogos, tendo ficado ocioso até o final da década de 50. Em 1959, com a criação do Conservatório Musical da cidade, o espaço voltou a ser utilizado e, mais tarde, serviu à Faculdade Municipal de Filosofia, Ciências e Letras, em 1966. Trinta anos mais tarde, a Urca foi transformada em Espaço Cultural, condição atual, que inclui salões de exposição e um teatro.
CASSINO IMPERIAL
Também comandado por Vivaldi Leite Ribeiro, era dividido em Imperial Azul e o Imperial Vermelho, e contava com um cinema, o Cine Imperial. Demolido, o local abriga hoje uma agência bancária, em frente ao Edifício Bauxita.
Fontes: trabalho acadêmico publicado em 2007, que tem autoria de Ludmila Ribeiro Ramos, Maria Isabel Braga Souza, Talita Turatti e Diego Marcondes Mendes, e pode ser acessado clicando aqui -a leitura é recomendada; Memórias Históricas de Poços de Caldas, da saudosa D. Nilza Botelho Megale.
Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
Fontes: trabalho acadêmico publicado em 2007, que tem autoria de Ludmila Ribeiro Ramos, Maria Isabel Braga Souza, Talita Turatti e Diego Marcondes Mendes, e pode ser acessado clicando aqui -a leitura é recomendada; Memórias Históricas de Poços de Caldas, da saudosa D. Nilza Botelho Megale.
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9 comentários:
Me desculpe, estava apreciando seu blog e um tanto quanto vislumbrada com as imagens, mas, o seu comentário a respeito do hoje Condominio Quisisana não procede em absoluto! Acho que vc precisa dar uma passada por lá para constatar que o lugar é realmente lindo e muito bem mantido por sinal.
Olá. O Condomínio é uma coisa, o Hotel é outra. A referência é ao hotel. Obrigado!
Olá, mas o hotel de antes é o condomínio de hoje!
Desculpe, não fui bem claro: a referência do texto é ao atual Hotel Floresta. Fique à vontade para me contatar no email
rcaruso@pocos-net.com.br .
Obrigado!
Mas acho que está ocorrendo um equivoco,o Hotel Floresta não tem nada haver com o antigo Hotel Quisisana. O Condominio Quisisana(antigo hotel quisisana) fica ao lado do referido Hotel Floresta.
está acontecendo um grande equivoco o hotel floresta nada tem com com ocondominio Quisisna,
A foto e do hotel Quisisana hoje Condominio Quisisana, que mante sua estrutura original mas muito bem cuidada e administrada, tem hoje 40 funcionarios fixo, quase o dobro em altas temporadas. Colocamos a sua disposiçao para suas duvida.
Quisisana@pocos-net.com.br
ou tel 35 37221516
É verdade: o Hotel Floresta e o Quisisana são próximos, apenas. Estou aguardando o convite para uma visita, bem como o envio de fotos antigas do Quisisana.
Para saber mais, digite Quisisana no campo de pesquisas, no alto, à esquerda.
Saudações.
lindo post!
Registro aqui uma observação : O predio do Cine São Luiz foi construido pelo meu avô Luiz Pellegrinelli. O nome do cinema se deu por isso : Luiz ! Vi a menção acima que ali era o Cassino Lider, de propriedade da Familia Kalil. Gostaria que isso fosse explicado, uma vez que a familia Pellegrinelli compareceu em peso para a inaguração do cinema na época . Posteriormente o predio foi vendido pelos herdeiros e passado a Familia Blasi. Sua deterioração se deu nas mãos desta Familia. Hoje é um academia. Mas o cinema foi construido e pertencia ao meu avô. Obrigada.
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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .