sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

AS ASAS DA PANAIR


"A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo nas asas da Panair", diz a letra de Milton Nascimento e Fernando Brant.
  
Poços de Caldas faz parte da história da Panair -a foto acima já seria suficiente. Mas um importante artigo de Odair Camillo, editor do Brand News, jornal de Poços de Caldas em circulação há 35 anos, aprofunda o tema. O texto foi publicado em 2005. Confira:
  
"Poços também viajou nas Asas da Panair
 
Por Odair Camillo
   
Várias tentativas têm sido feitas, em vão, para se restabelecer os vôos regulares ligando Poços de Caldas às principais capitais do país. Nenhuma delas até agora tiveram ressonância, ou encontraram o apoio necessário para dotar a cidade do único meio de transporte que, certamente, alavancaria não só o nosso turismo, como a indústria e o comércio local.
  
Mas, quem ainda não ouviu falar da Panair do Brasil, empresa aérea fundada em 1929, que por vários anos aterrissou em nosso aeroporto trazendo em seus aviões passageiros do país e do exterior, que vinham à Poços de Caldas atraídos pelas suas águas medicinais e pelos bons cassinos?
  
Brand-News traz nesta edição, uma pequena matéria sobre a Panair do Brasil, uma crônica de desabafo do Dr. Paulo Ivan de Oliveira Teixeira, feita há alguns anos sobre a falência da empresa aérea, decretada arbitrariamente em 1965 pelo governo militar, e uma entrevista com Wilson Danza, o piloto poços-caldense que promoveu a cidade percorrendo o mundo "Nas Asas da Panair".
  
Realmente, não sou capaz de lembrar de muitos fatos relacionados à presença da Panair do Brasil em nossa cidade. Nunca fui bom de memória. O Dr. Felix que o diga!
   
Mas uma coisa que me marcou profundamente - embora eu ainda fosse muito jovem: a figura esbelta, simpática, do Comandante Wilson Danza, trajando um impecável uniforme da Panair do Brasil, companhia aérea da qual era um dos pilotos, e que aterrissava com seus aviões três vezes por semana em nosso aeroporto, vindos de várias partes do país, trazendo passageiros, autoridades e artistas do Brasil e do exterior para usufruírem de nossas águas termais e, ao mesmo tempo, jogarem com a sorte em nossos cassinos.
   
Posso dizer, com toda franqueza, que ele foi meu ídolo, já que a minha juventude foi marcada por um grande desejo de ser “aviador”, como era chamado o piloto na época, profissão invejada, mas inacessível para a grande maioria dos jovens e tida como “perigosa” pelos nossos pais.
   
E OS ANOS PASSARAM...
Esta semana, em busca de assunto para o jornal, fiquei sabendo que Wilson ainda morava em Poços de Caldas, num dos blocos de apartamentos do Vale do Imperador. Fui até lá e o encontrei, morando com o jovem filho Wilsinho num dos modestos apartamentos do condomínio. Apresentei-me e disse da finalidade de minha visita. Só não sabia que ele havia tido um derrame e que estava se recuperando, tendo com isso, dificuldades para andar e se expressar, embora sua memória ainda funcione, razoavelmente bem, apesar dos seus 83 anos de vida.
     
Enquanto o filho procurava, a meu pedido, fotos dele ligados à Panair do Brasil relacionadas àquela época áurea dos cassinos, eu consegui, com alguma dificuldade, extrair dele muitas palavras, com informações interessantes daquele que foi um dos grandes pilotos de nossa cidade e que já representou Poços de Caldas e o Brasil, em várias partes do mundo.
   
Entre outras coisas, disse-me que iniciou na aviação ainda muito jovem, tendo tirado o "brevê" após cursar no aeroclube de São João da Boa Vista.
   
PILOTO DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL
Wilson Danza foi o piloto da aeronave que trouxe do Chile a Seleção Brasileira de Futebol, que havia conquistado a Copa do Mundo de 1962. Um vôo que durou mais de cinco horas de Santiago ao Rio de Janeiro. Durante muito tempo fez a ligação aérea Rio / Assunção / Buenos Aires, com os famosos DC-8 e, depois, voando por vários países da Europa, nas principais rotas servidas pela Panair. Ele comandou durante algum tempo, o escritório da companhia em Assunção do Paraguai, ocasião que angariou importantes amizades, chegando a freqüentar com relativa assiduidade o palácio governado então pelo General Alfredo Stroesner.
  
Numa das viagens a Machu Picchu (Peru), ele levou uma equipe de cientistas e estudiosos, que culminaria, mais tarde, com o lançamento do livro "Eram os Deuses Astronautas?" de Erich Von Daniken.
   
Outro fato interessante foi a sua amizade e a de seu irmão Walter com o Comandante Rolim, que na época, viajaram aos Estados Unidos para comprar um avião, o primeiro de uma série que mais tarde se tornaria a TAM, uma das mais importantes companhias aéreas brasileiras.
   
Em Poços de Caldas, Wilson, juntamente com seu irmão, também piloto da Panair, trabalhou no escritório da companhia aérea, nas dependências do Palace Hotel. Posteriormente, Wilson abriria a agência de passagens "Speed", na rua Prefeito Chagas, onde está atualmente a Ótica Moderna.
   
Apesar da idade, Wilson Danza mostrou-se receptivo e feliz. Posou para algumas fotos, acompanhou com interesse meu manuseio das suas fotografias históricas e, evidentemente, ao final da entrevista lamentou, como os demais ex-funcionários da Panair do Brasil, que até hoje procuram por um motivo plausível que levou à falência, num ato truculento do governo militar, uma das mais queridas e saudosas companhias aéreas do Brasil.
  
PANAIR DO BRASIL LEVOU O NOME DE POÇOS DE CALDAS PARA O BRASIL E O MUNDO
Cada vez que se fala em trazer de volta para Poços de Caldas os decantados vôos regulares que, certamente, alavancariam o nosso turismo, as pessoas mais antigas, lembram-se da Panair do Brasil, empresa aérea brasileira – fundada em 1929 pelo norte americano Ralph O´Neil, inicialmente com o nome de Nyrba (representando os principais destinos: Nova York, Rio de Janeiro e Buenos Aires) que na época dos cassinos ligava nossa cidade às principais capitais do país, da América do Sul e do mundo.
  
Os vôos da Panair do Brasil marcaram época em Poços de Caldas. Seus aviões, quase sempre lotados, traziam não só passageiros atraídos pelas nossas águas termais e, principalmente pelos jogos, como também autoridades e artistas internacionais que vinham se apresentar em nossos cassinos.
  
A empresa aérea era um segmento ou espécie de ramificação da PanAm – uma das mais conceituadas empresas aéreas internacionais, que ficou famosa não só pela sua frota de aeronaves modernas, mas principalmente, pelos serviços de bordo impecáveis, e em terra, com um quadro de funcionários reconhecidos pela eficiência e organização.
   
A Panair do Brasil, que depois pertenceu a Mauro Wallace Simonsen, dono também da TV Excelsior, funcionou até o dia 12 de fevereiro de 1965 quando, em um ato arbitrário do governo militar, cancelou suas concessões. Dois dias depois, a VARIG recebia de mãos beijadas as linhas, até então exploradas pela Panair, que ligavam o Brasil à Europa e Oriente Médio. A decretação de falência da empresa, causou muita indignação, principalmente entre os funcionários que, até hoje, tentam, por vias judiciais, rever esse procedimento dúbio do regime militar, e culpam também a grande imprensa por não reabrir as investigações".
   
Sobre a foto acima, há a seguinte descrição, disponível aqui:
  
Panair do Brasil. Douglas C-47B-27-DK. Registro PP-PBZ (cn 32609/15861). Poços de Caldas, Brazil.
       
Fabricado como "C-47B-25-DK", foi convertido para o modelo "C-47B-27-DK" e entregue a USAF, como "C-47B-28-DK", matriculado 44-76277. (Sempre com modificaçãoes nos motores).
   
Após o período de permanência na Panair do Brasil foi vendido à Cruzeiro do Sul, registrado como PP-CCR. Seu último registro conhecido foi CP-1243.

Abaixo, outro flagrante de um avião da Panair em Poços de Caldas. A foto, da década de 1950, é do Sr. Décio Alves de Morais.
   

Clique nas imagens do Memória de Poços de Caldas para ampliá-las.
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ATUALIZANDO: Há observações relevantes sobre o material publicado acima disponíveis aqui.
  

1 comentários:

Anônimo disse...

É relamente Poços de Caldas sofre com essa mania incansavel de manter as aparencias se declarando turistica ainda.
Seria bom se o reconhecimento de falencia do tursimo fosse tomado pois assim as autoridades se veriam obrigadas a tomar providencias cabiveis para restabelecer o real potencial turistico da cidade.

Alias, por este motivo que a cidade não se desenvolve economicamente, pois não incentiva nenhuma empresa de medio e grande porte a se alocar por aqui.

E mais um fato importante é o fato da cidade esconder que o que a move fora algumas empresas multinacionais são os universitarios, que consomem desde alimentos, servicos, automoveis e até imoveis na cidade gerando renda muito alem da gerada pelo turismo falido que se auto-denomina turismo para idosos.

Uma lastima, onde além deste fato os governantes da cidade corrompem tudo até mesmo transporte e fornecimento de energia e o salario praticado na cidade se fosse divulgado publicamente (o que é uma vergonha) a cidade nunca teria ganhado nenhum titulo de melhor qualidade de vida (pois com qual embasamento esse titulo foi pleiteado?).

Espero que um dia a cidade caia na real e melhore.

Alex Jorib
alexjorib@yahoo.com.br

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .