"VITOR CARUSO
por Ademaro Prézia
Lá pelos idos de 22 andei em Campinas aprendendo, com o professor Otoniel Mota, uns rudimentos de português. Acontece, entretanto, que o mestre, por todos os títulos insígne, impunha aos seus alunos, com a autoridade de sua cátedra, um método sem dúvida abstruso que se chamava “Diagrama” – misto de gramática e geometria que o filólogo trouxera, como grande novidade, dos Estados Unidos.
Impermeável àquela inovação pedagógica, eu vencia o engulho da matéria, lendo às ocultas as deliciosas páginas de Vieira e Bernardes que vinham, como apêndice, no mesmo compêndio, para a criminosa dissecação gramatical.
Foi assim, “por tabela”, que estabeleci contato com esses autores que têm sido o prato de resistência de minhas mal assimiladas leituras.
Por esse tempo me caiu às mãos uma revista que se editava em Campinas – “A Onda”. Dessa publicação, na verdade, pouco guardei. Porém, entre seus colaboradores, um nome me ficou para sempre na lembrança: Vitor Caruso, já então reputado e brilhante humorista.
Os azares da vida levaram-me a outras paragens. Todavia, de quando em vez, em “A Cigarra”, no “Dom Quixote” e na “A Manha”, se não me engano, surgia o espirituoso escritor subscrevendo trabalhos em prosa e verso, com aquela sua verve de inigualável sabor.
Há dias, num encontro casual, fiquei conhecendo pessoalmente Vitor Caruso. O homem não desmentiu o escritor. Alegre. Simpático. Otimista. Lembramo-nos de “A Onda”, da velha Campinas, e de alguns nomes contemporâneos já submersos no esquecimento.
Caruso tem uma boa série de livros já publicados. “Para ler no trem”; “De barriga para o ar”; “O tridente do Diabo”; “Carusma”, e inéditos: “O livro do bom humor”; “O Riso na literatura” e a novela “Gilberta”.
Na opinião de Sud Menucci, foi Caruso um dos primeiros, senão mesmo o primeiro dos poetas brasileiros a iniciar a divulgação das obras do grande humorista italiano – Trilussa. Na sua bagagem literária também se encontram boas traduções de Belli, Fucini, Scarron, Puron, Dorat, etc.
“Carusma” reflete passagens interessantes do nosso parlamento antes de 30, como registra fatos internacionais que no espelho, por vezes deformante, do humorismo, ganham surpreendentes e divertidíssimos contornos.
Assim é que ele nos conta, numa página de fino humor – aqui mal resumida- que, em certa prisão italiana, um napolitano cumpria pena por ter blasfemado em público, o que era proibido por uma lei de Mussolini.
Um dia, o prisioneiro, que desenferrujando as pernas corria pelo páteo, dá uma tremenda “topada” numa pedra. Que dor atroz! Já se dispunha a proferir uma grande injúria quando vê, ao lado, o guarda. Contém-se. Levanta o punho aos céus e exclama:
-“Ó Dio, Tu me comprendi”.
Por esta escala se ajusta o sadio humorismo de Vitor Caruso, que, além de poeta, é também jornalista. Exerceu muitos cargos públicos e foi, por algum tempo, Diretor da Imprensa Oifical do Estado de S. Paulo.
Hoje desfruta com dignidade os justo ócios de uma aposentadoria, embora nas letras continue em plena atividade."
Texto extraído pelo amigo Paulo Policani do Diário de Poços de Caldas, “o matutino de maior circulação no Sul de Minas”, edição de 5 de agosto de 1960, da biblioteca da PUC. O diretor do jornal era o Cônego Trajano Barroco.
Ademaro Prézia colaborou por mais de quarenta anos em jornais de Poços de Caldas e São João da Boa Vista. É, ainda, autor da letra do hino de Águas da Prata.
Victor Caruso era tio-avô do editor do Memória de Poços de Caldas. Foi, também um dos precursores da sericicultura no Brasil. É dele, entre outros, o seguinte epigrama:
"A um matemático
Jaz aqui um matemático.
Se dele queres saber
Pede à historia que to diga:
Sendo do cálculo amador fanático
Teve para morrer um meio prático
E resolveu morrer
De cálculos na bexiga..."
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2 comentários:
Obrigado pela citação! Sempre bom ajudar.
Abraço
Paulo Policani
Obrigado, Paulo!
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