terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O COMBATE

"POUCO A POUCO
  
Temos fundadas esperanças de que Poços de Caldas retomará seu ritmo de progresso, de domínio de si própria, impulsionada pela nova aragem de uma administração que marcará, estamos certos, novos rumos à sua vida, pois temos, agora, graças a Deus, um filho da terra, conhecedor de seus problemas, e, mais do que isto, um técnico, pois que o jovem Prefeito é um engenheiro culto, independente, sem junções políticas, apto, portanto, para resolver, não diremos todos, certos problemas de urgência imediata, dos muitos acumulados durante os sete malfadados anos de uma administração inepta. Não sabemos, alusivamente, a questão financeira da nossa desventurada Prefeitura; boa, com toda a certeza, não é, porque as finanças do regime ditatorial forma sempre de vultosos déficits, como não poderiam deixar de ser. Entretanto, S. Exa., embora em caráter provisório no cargo, poderá deixar, quando sair, alguma coisa que marcará a sua passagem como um dos bons e eficientes servidores de nossa terra.
  
Há sete anos que a Prefeitura virou acéfala de administração, sempre entregue a dois ou mais funcionários-prefeitinhos que ainda conservam algum ranço de autoritarismo da era getuliana.
  
O ex-prefeito não chegou a conhecer a vida da cidade, não entrou em contato direto com o seu povo, não lhe ouvia, por comodismo, as reclamações e, quando as ouvia, logo vinha a chapa batida: “O senhor pode estar certo de que eu tomarei providências”, ou “A prefeitura não tem verbas”. E a nossa bela e encantadora cidade acha-se, hoje, em estado lastimável de conservação. Já não se falando nos logradouros públicos. Estes, então, no estado em que se encontram, são irreconhecíveis. Temos, por exemplo, a Represa Saturnino de Brito. É um dos mais belos recantos de Poços de Caldas. No entanto, o seu abandono é de causar pena. Não temos estrada para a Cascata das Antas, para a Caixa D´Água, para a Fonte dos Amores. Os nossos Parques, é uma tristeza dizê-lo, assemelham-se a certas paisagens nordestinas: vivem num eterno desalento, como que pedindo, em vão, uma migalha de trato e carinho. É a maldita herança valadariana em que vive, hoje, a terra do sonho e da esperança.
  
É o resultado dos municípios sem autonomia, de confiar as suas rédeas a amigos do peito dos chefes estaduais sem escrúpulos administrativos, que sejam tão somente do agrado da panelinha e não homens realmente capazes e que estejam à altura do cargo, porque um prefeito nomeado, que não seja escolhido pela vontade do povo é, quase sempre, uma nulidade perfeita. Mas, se a nomeação dos prefeitos dependesse da vontade dos munícipes, não aconteceria o que há acontecido em todos os municípios sem autonomia: ausência de administração pública, finanças arruinadas, desprezo pela responsabilidade do cargo que ocupa.
  
É uma tarefa espinhosa a do nosso atual Prefeito, porque os cofres a Prefeitura estão limpos como Deus quer as almas. E sem dinheiro, não é possível fazer milagres".
  
O Editorial acima foi publicado no Jornal O Combate, ano 1, número 11, e 25 de dezembro de 1945, cujo diretor-proprietário era José Baldassari. Joaquim Justino Ribeiro foi o prefeito nomeado de Poços de Caldas entre 1934 e 1945, e deu lugar a Resk Frayha, que governou a cidade entre 1945 e 1946.
  
Impressiona como alguns temas discutidos há 65 anos são tão atuais.
  

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Memória de Poços de Caldas é um trabalho cultural, sem fins lucrativos, e democrático. Aqueles que quiserem se comunicar diretamente com o autor podem fazê-lo pelo email rubens.caruso@uol.com.br .