As coisas não andavam exatamente tranquilas há 110 anos em Poços de Caldas, o que levou à edição, em 16 de dezembro de 1900, de importante decreto. Confira a informação, retirada do livro "Poços de Caldas", de Homero Benedicto Ottoni:
"EDITAL
o Barão de Campo Místico, Delegado de Polícia em exercício nesta vila de Poços de Caldas:
Faço saber aos que o presente virem que é expressamente proibido andarem armados dentro desta Vila com armas ofensivas e aquêles que assim fôrem encontrados serão presos, processados e as armas apreendidas.
À noite serão revistados aquêles que se tornarem suspeitos. Outrossim, ficam expressamente proibidos os jogos de azar principalmente nas vendas que deverão fechar suas portas às 10 horas da noite e conservarem-se em silêncio para não pérturbarem o sossêgo público."
Saiba mais: Barão de Campo Místico é o título concedido ao empresário, político e chefe de polícia Antônio Teixeira Diniz (ao lado) pelo imperador D. Pedro II, em 1889. Nhonhô, como era conhecido o Barão, foi pioneiro da atividade turística na região, considerado o primeiro empreendedor no setor por conta do hotel construído em Poços de Caldas. Foi o Barão também que trouxe a primeira roleta para a região, dando início a longa era dos cassinos sulmineiros.
"Nhonhô" nasceu em Campo Místico (hoje Bueno Brandão), também no sul de Minas, filho de Antonio Joaquim Teixeira e Luiza Maria do Nascimento. Era bisneto do fundador de Caldas, Antonio Gomes de Freitas, proprietário da fazenda dos Bugres.
Sobre o Coronel, escreveu D. Nilza Megale em seu Memórias Históricas de Poços de Caldas:
"O Imperador e o Coronel
O Coronel Antônio Teixeira Diniz, figura proeminente na história de Poços de Caldas, distinguiu-se principalmente pelo seu tipo autêntico e original. Homem simples e rude, de pouca cultura, mas prestativo e observador, sabia enfeitar suas estórias com um toque pitoresco e pessoal. Odiado por muitos e admirado por outros, possuía grande coragem e notável espírito de iniciativa, que demonstrou cabalmente por ocasião da visita de D. Pedro II àquela estância.
Contam que quando o Imperador ali chegou, o trole que transportava Sua Majestade atolou num terrível lamaçal. Tentaram todos os recursos para puxar a viatura, porém os animais não conseguiam arredá-la do lugar. O Coronel Diniz não teve dúvidas, tirou o paletó de cerimônia que usava, arregaçou as mangas da camisa e chamando quatro possantes negros escravos, enfrentou a chuva que caía sem cessar, entrou na lama até os ombros e junto com seus companheiros desatolou o carro que conduzia o Soberano e sua esposa (alguns historiadores afirmam ter este fato acontecido no dia do embarque do Imperador ara Ribeirão Preto e não na sua chegada).
Comovido com o gesto nobre e decidido do Coronel Diniz, o Imperador desejou conhecer aquele homem alto e forte e fez questão de agradecer-lhe a amável iniciativa. Dizem que o Nhonhô (como era
apelidado) respondeu-lhe com a maior simplicidade: "Senhor Imperador, para mim foi melhor, porque fiquei livre desta rouparia que estava me azucrinando". O certo é que ele conquistou a simpatia de S. Majestade e tornou-se acompanhante favorito do monarca durante a sua breve estadia em Poços de Caldas.
Outro caso famoso de Antônio Teixeira Diniz, narrado pelo historiador Dr. Mário Mourão: após inesquecível almoço oferecido à comitiva imperial pelos concessionários da EmpresaTermal, nosso herói deliciou a assistência relatando uma sensacional caçada que fizera nas cabeceiras do Rio Pardo, quando de uma só vez matara perigosa onça pintada, o terror da vizinhança e o veado galheiro mais cobiçado da região. Sua narrativa, vibrante e ornamentada, de velho caçador, prendeu a atenção dos ouvintes, que sentiram emocionados os dramáticos lances da aventura. Em dado momento o Nhonhô, entusiasmado, esquecendo o protocolo e a etiqueta, bateu nas pernas do Imperador, dizendo: "Pois é, Coronel, este foi o dia mais feliz de minha vida!". O bondoso Monarca, sorrindo respondeu: "Obrigado, Coronel Diniz, o senhor é meu xará. Eu sou mesmo coronel de vários exércitos do mundo, mas o senhor foi a primeira pessoa que teve a delicadeza de recordar esta distinção, que me enche de orgulho.
Impressionado com a autenticidade do simpático mineiro, ou para agradecer as atenções recebidas, D. Pedro II, além de conceder-lhe o título de Barão de Campo Místico, enviou-lhe uma rica buzina de caça, que pertencera ao seu primo, o rei Luiz II da Baviera.
Alguns anos antes de seu falecimento, ocorrido em 1918, o Barão começou a sofrer das faculdades mentais. Os antigos moradores da cidade lembravam-se dele vagando pelos montes, ao romper da aurora, tocando tristemente a buzina de prata que recebera de presente do Imperador".
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